CNA projeta safra recorde em 2026, mas alerta para ajuste e crédito rural restrito

Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, João Martins, afirmou que o ano deverá ser positivo para o campo, impulsionado por um clima mais equilibrado
O setor agropecuário brasileiro se prepara para um 2026 de desafios financeiros e expectativas de recorde na produção. O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, afirmou nesta terça-feira (9) que o ano deverá ser positivo para o campo, impulsionado por um clima mais equilibrado, mas indicou que o setor passa por um momento de “ajuste” devido ao aumento do endividamento e às restrições no crédito.

“Será um ano bom para a agricultura brasileira. O clima está sinalizando que teremos equilíbrio climático e vamos bater outro recorde de produção”, declarou Martins durante coletiva de imprensa. A projeção para a safra 2025/26 é de uma colheita que superará, novamente, 350 milhões de toneladas.

Crise de crédito e autossustentabilidade

Martins destacou que, apesar da escassez de financiamento oficial, o setor conseguiu crescer devido ao capital próprio de produtores capitalizados de safras anteriores. No entanto, ele alertou que o atual cenário de juros altos impõe ao produtor a necessidade de autossustentabilidade financeira, algo que, segundo ele, não é benéfico para a ampliação da produção.

“Não é interessante. Precisava de aporte de recursos oficiais para ampliar a produção”, defendeu Martins, reforçando a necessidade de subsídios estatais.

O diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, destacou a dificuldade e previu que a “normalização” do ambiente de financiamentos pode levar mais um ano.

  • O crédito rural com taxas livres atingiu em outubro de 2025 o maior índice de inadimplência desde 2011, marcando 11,4%, em relação a outubro de 2025].
  • Os produtores estão investindo mais capital próprio para financiar a safra devido às altas taxas de juros e à exigência de garantias.

Lucchi apontou que não há uma “bala de prata” para resolver o alto endividamento, mas medidas como a redução de custos acessórios (taxas cartoriais, seguros) que elevam a conta final são cruciais. A CNA tem discutido melhorias no arcabouço legal para aumentar a atratividade do crédito privado e amenizar a falta de recursos do Plano Safra.

Cenário de commodities e custos

Apesar dos desafios financeiros, Lucchi projeta uma reação nos preços de algumas commodities em 2026:

O preço do milho pode avançar em até 15% devido à redução dos estoques mundiais. A situação da soja também deve melhorar para o produtor, mas em menor intensidade.

Contudo, a margem de lucro deve permanecer pressionada por custos de produção e financiamento mais altos, situação agravada em contratos de arrendamento com valores considerados “exorbitantes”.

Foco em inovação e pecuária leiteira

Reeleito até 2029, João Martins garantiu que a agricultura nacional continuará respondendo à demanda internacional por alimentos. Após cumprir a meta de criar uma nova classe média rural por meio de assistência técnica a 484 mil pequenos produtores, o novo foco da CNA é em inovação e inteligência artificial.

Um dos principais desafios setoriais continua sendo a baixa competitividade da produção leiteira nacional. Martins criticou a ineficiência produtiva interna em comparação com países como Uruguai e Argentina, que conseguem exportar leite em pó a baixo custo para o Brasil.

“Precisamos trabalhar… Temos que fazer com que a nossa produção seja eficiente e competitiva com o mundo todo”, concluiu o presidente, em um momento em que a CNA discute com o Ministério do Desenvolvimento (MDIC) a aplicação de direito antidumping contra importações dos países do Mercosul.

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