Embarque de soja em navio graneleiro no Porto de Paranaguá, no Paraná (Claudio Neves/Divulgação)

Agro brasileiro comercializou R$ 7,4 trilhões em 2022, aponta estudo inédito

Empresômetro revela que setor tem 3 milhões de empresas e 5,3 milhões de produtores rurais; Agro responde por 23,6% da arrecadação com impostos do país
EXAME/Leandro Becker
Embarque de soja em navio graneleiro no Porto de Paranaguá, no Paraná (Claudio Neves/Divulgação)
As empresas do agronegócio e os produtores rurais brasileiros comercializaram 7,39 trilhões de reais em 2022, o equivalente a 31,96% das operações de compra e venda registradas no país. Apenas soja, milho e carnes responderam por 2,08 trilhões de reais dos negócios entre janeiro e dezembro do ano passado, representando 28,2% das transições.
Os dados são de um estudo inédito divulgado nesta quarta-feira, 20, pelo Empresômetro, uma spin-off do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). A análise, que levou seis meses e considerou notas fiscais eletrônicas cuja CNAE (Classificação Nacional de Atividade Econômica) é diretamente relacionada ao agro, tem como objetivo mapear e entender cada segmento do setor.
No levantamento, o Empresômetro mapeou dois tipos de valor: o comercializado e o transacionado. O primeiro se refere às transações que geraram, efetivamente, uma nota de compra e venda. Já o segundo trata de transações como um todo, incluindo, por exemplo, operações em que um mesmo produto passa por diferentes etapas do campo ao consumidor.
A partir disso, o valor transacionado pelo agro foi de R$ 11,29 trilhões – 32,92% do total do Brasil no ano passado, que chegou a R$ 34,29 trilhões. A soja é um exemplo desta transação. Vendida do produtor à cooperativa, depois para a trading até chegar à China, a mesma commodity passa por quatro operações. Neste sentido, o valor foi movimentado, mas a comercialização é a compra e venda inicial, sem haver duplicidade no cálculo do Empresômetro.
10 maiores grupos de comercialização
O estudo do Empresômetro também agrupou os registros das notas fiscais em 26 grupos do agronegócio. Os 10 com maior participação no valor comercializado foram soja (15,13%), insumos (13,86%), carnes (7,72%), máquinas e equipamentos (7,41%), alimentação humana (6,59%), milho (5,33%), bebidas (4,83%), animais vivos (4,31%), álcool (4,27%) e café (3,03%).
Somente a soja teve um valor transacionado de R$ 1,64 trilhão em 2022. Já o total comercializado chegou a R$ 1,12 trilhão – 17,92% por meio de produtores rurais pessoa física (R$ 200,46 bilhões).
A definição do que faz parte do agro considerou tanto a produção agropecuária da porteira para dentro quanto outras partes da cadeia, como indústria de transformação, insumos e serviços. As bebidas foram incluídas como um ramo do agronegócio porque contêm matéria-prima de origem vegetal – cerveja, vinho e cachaça, por exemplo, têm origem de cevada, uva e cana. O mesmo vale para os biocombustíveis, como etanol e biodiesel.
Gilberto Luiz do Amaral, sócio e head de estudos do Empresômetro, destaca que o raio-x busca se aprofundar mais em dados relativos ao setor e será atualizado anualmente. “Acreditamos que isso ajudará a entender melhor cada segmento, tanto as demandas quanto o volume de negócios e as empresas. Também poderá servir de subsídio para outros estudos, tanto para a formação de políticas públicas quanto para apoiar a área privada e pesquisas acadêmicas”, afirma.
PIB e contribuição em impostos
A pesquisa calculou que o Produto Interno Bruto (PIB) do agro foi de R$ 2,58 trilhões em 2022, o que representa 26,02% do total do país (R$ 9,92 trilhões). “Ajuda nessa conta o fato de o agro ser um setor que exige emissão de notas fiscais eletrônicas em diferentes etapas da cadeia, a exemplo de áreas como e-commerce e medicamentos”, ressalta Amaral.
O levantamento ainda indicou que o agro correspondeu a 23,65% da arrecadação tributária do Brasil no ano passado, sendo responsável por R$ 790,51 bilhões de um total de R$ 3,34 trilhões. O setor primário respondeu por 18,87% do valor total de tributos – menor na comparação com os setores secundário (47,33%) e terciário (33,80%).
Esse dado mostra que, apesar dos subsídios, o agronegócio tem uma contribuição expressiva no montante total porque há incidência de tributos ao longo da cadeia produtiva. “Este valor é o que o agronegócio recolheu efetivamente. Então, por exemplo, a produção de carne paga menos imposto por ter incentivo fiscal, mas há taxação quando o produto passa pelo frigorífico, por um atacadista e pelo açougue ou supermercado até chegar ao consumidor”, explica o sócio e head de estudos do Empresômetro.

Além disso, verifique

Ensaio prévio e raízes políticas: o discurso do novo presidente da Câmara

Hugo Motta busca em Ulysses argumentos para defender Legislativo e se afastar de crises institucionais …