IstoÉDinheiro/Matheus Almeida
O economista Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula ao cargo de presidente do Banco Central, passou por uma sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal nesta terça-feira, 8.
As perguntas dos senadores abordaram temas como risco fiscal, independência do Banco Central, as relações com o presidente Lula e os relatórios recentes sobre os aplicativos de apostas online, as chamadas “bets”. Veja algumas frases de Galípolo:
Juros altos no Brasil
“A gente vai encontrar diversos dados que sugerem uma economia que não está em um processo de desaceleração, está pujante. Não é ruim, mas a bola que o BC tem que estar com o olho é a inflação. O que isso sugere? Que a gente deve assistir um processo de desinflação mais lento e mais custoso. Ao BC não cabe correr risco. A função dele é ser conservador, com a taxa de juros no patamar necessário para atingir a meta definida.”
“Eu sinto que gerei uma grande frustração na expectativa de que existia que, ao entrar no BC, eu iria começar um grande reality show, com disputas e brigas ali dentro. Infelizmente, tenho uma informação chata para dar a todos: a minha relação com o presidente é a melhor possível, com o presidente Lula e o presidente Roberto.”
Autonomia do Banco Central
“Eu sou relativamente novo na vida pública, mas eu aprendi que nos debates da vida pública existem palavras que são quase gatilho. […] Aprendi que autonomia é uma palavra que é uma dessas. Eu costumo brincar que a gente precisa de quase um rebranding, precisa reexplicar a ideia de autonomia do Banco Central.”
“O Banco Central tem autonomia operacional para buscar as metas que foram estabelecidas pelo poder democraticamente eleito. A gente só pode até a adolescência achar que a gente faz o que entende do jeito que a gente bem entende, depois não dá para pensar isso.”
“Eu sou daqueles que defende que o Banco Central não devia nem votar meta de inflação dentro do CMN. Pensando numa corporação, é muito estranho que quem vai ter de perseguir a meta vote para estabelecer a meta que tem que perseguir.”
Gabriel Galípolo, durante sabatina no Senado nesta terça-feira, 8. (Crédito:Adriano Machado/Reuters)
Risco fiscal
“O papel do Banco Central é menos avaliar efetivamente, do ponto de vista de uma análise própria, a função fiscal, e muito mais reforçar sua função de reação, tanto do ponto de observância como de ações, ao fato que o fiscal pode impactar tanto a inflação corrente como expectativas.”
Independência financeira e orçamentária do BC
“Eu acho um avanço institucional relevante o que está sendo discutido hoje no Banco Central. É necessário a gente dar as condições para que as pessoas possam trabalhar, não só do ponto de vista remuneratório delas, mas da infraestrutura necessária. Entendo que hoje está se discutindo muito mais o formato que vai se dar essa evolução institucional.”
Bets
“O Banco Central não tem qualquer atribuição ou papel sobre a regulamentação das bets — é importante deixar isso claro — mas sim sobre qual é o impacto no consumo e endividamento das famílias. Dialogamos com bancos e instituições financeiras para obter os dados e os números realmente impressionam.”
Reforma tributária
“Esse é um tema debatido de forma constante por nós no Banco Central, qual o impacto nos preços e de que forma se dará essa distribuição dos impostos entre os setores. É uma atenção que temos, precisamos de estudos para reunir informações sobre esses futuros impactos .”
Transição energética
“As projeções sobre o que vai acontecer na economia já são bem complexas de ser feitas, agora a gente tem que adicionar também as projeções climáticas junto com as econômicas, o que dá uma exponencialidade na dificuldade.”
“Eu vejo para o Brasil uma grande oportunidade de se firmar como um polo, porque o Brasil tem hoje tanto uma segurança alimentar quanto energética, contando com uma matriz energética mais limpa. Então, esse custo de transição seria menor, em um mundo em que você corre o risco de ter várias pressões inflacionárias.”
Inflação pós-pandemia
“É um grande debate global o quanto aquele processo inflacionário correspondia a um choque de oferta pela desarticulação das cadeias produtivas e dificuldade de produzir, e o quanto correspondia a uma questão de demanda decorrente dos programas de transferência de renda e socorro por causa da pandemia. A minha posição, eu recorro sempre a uma frase do Churchill: a verdade é uma adúltera, nunca está com uma pessoa só.”