Lula cobra decisão da UE, condena aventuras militares e propõe pacto contra o crime organizado no Mercosul

Durante Cúpula em Foz do Iguaçu, presidente brasileiro atribui entrave no acordo comercial à falta de vontade política europeia e faz alerta para intervenções na Venezuela

Por: Jovem Pan

Presidente Lula, ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participam da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul/EVARISTO SA / AFP

 

Em discurso realizado, neste sábado (20), durante a Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em Foz do Iguaçu (PR), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou um tom firme ao abordar os impasses nas negociações com a União Europeia e a defesa da estabilidade democrática na América do Sul. O líder brasileiro destacou a necessidade de integração física e política do bloco, agora ampliado com a entrada definitiva da Bolívia e a associação do Panamá.

O pronunciamento ocorre em um momento simbólico, marcando os 40 anos da Declaração do Iguaçu, documento que lançou as bases do bloco econômico. Lula utilizou a metáfora da construção de pontes — citando a recém-inaugurada Ponte da Integração com o Paraguai — para contrapor o cenário global de fragmentação.

Impasse com a Europa e novos mercados

O ponto central da agenda econômica foi a estagnação do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, negociado há 26 anos. Lula foi taxativo ao responsabilizar a indecisão do bloco europeu pelo atraso na assinatura, citando o protecionismo agrícola como barreira.

“Sem vontade política e coragem dos dirigentes não será possível concluir uma negociação que já se arrasta por 26 anos”, declarou o presidente.

Apesar da crítica, Lula informou ter recebido carta de líderes europeus manifestando a expectativa de aprovação do acordo em janeiro de 2026. Enquanto o desfecho não ocorre, o presidente ressaltou a estratégia de diversificação comercial do Mercosul, mencionando avanços em tratativas com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), Índia, Emirados Árabes Unidos e Vietnã. O comércio externo do bloco já superou US$ 630 bilhões nos dez primeiros meses de 2025.

Soberania, Venezuela e crime organizado

No campo geopolítico, o presidente brasileiro fez alertas contundentes sobre a segurança regional. Sem citar nomes diretamente, mas referindo-se a tensões recentes, Lula classificou como uma “catástrofe humanitária” qualquer possibilidade de intervenção armada na Venezuela, alertando para o perigo de precedentes militares de potências extrarregionais no continente.

Internamente, o mandatário reforçou a resiliência das instituições brasileiras após a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, afirmando que o país “acertou as contas com o passado”.

Diante do avanço da criminalidade transnacional, Lula propôs, em consulta com o Uruguai, a convocação de uma reunião de ministros da Justiça e de Segurança Pública do Consenso de Brasília. O objetivo é criar uma estratégia sul-americana unificada de combate ao crime organizado, focada na asfixia financeira de atividades ilícitas e na cooperação de inteligência.

Pauta social e direitos humanos

A agenda social também teve destaque. Lembrando o recorde da América Latina como a região mais letal para mulheres, o presidente propôs ao Paraguai — que assume a presidência rotativa do bloco — a criação de um pacto do Mercosul pelo fim do feminicídio. Lula informou ainda o envio ao Congresso de um acordo para estender medidas protetivas a mulheres entre os países do bloco.

Ao encerrar sua fala, o presidente relembrou os 50 anos da “Operação Condor”, articulação entre ditaduras do Cone Sul para perseguir opositores, usando a memória histórica como argumento para fortalecer a democracia atual. “Se regimes ditatoriais se articularam para perseguir seus cidadãos, cabe aos governos democraticamente eleitos trabalhar juntos para garantir a todos uma vida melhor”, concluiu.

Infraestrutura e energia

O discurso também abordou o potencial da região na transição energética, citando a capacidade do Mercosul em liderar a produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF) e a exploração de minerais estratégicos. O Brasil reforçou o compromisso com o programa Rotas da Integração Sul-Americana e a renovação do Fundo de Convergência Estrutural (FOCEM II) para reduzir assimetrias econômicas entre os parceiros.

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