Ucrânia diz que perdeu confiança em Lula e descarta mediação na guerra

Representantes do governo ucraniano voltaram a criticar a visita do presidente a Moscou e disseram à CNN que ele “não tem o direito de reivindicar para si qualquer posição nas futuras negociações de paz”

CNN/Américo Martins

Luiz Inácio Lula da Silva (à esquerda) e Volodymyr Zelensky (à direita) • REUTERS/Adriano Machado – Georgi Paleykov/Getty Images

 

 

O governo da Ucrânia disse que “perdeu completamente a confiança” no presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um possível mediador na guerra com a Rússia.

Representantes do governo do presidente Volodymyr Zelensky disseram à CNN Brasil que descartam “a falsa mediação na Praça Vermelha”.

“Sem um mínimo de confiança, Lula não tem o direito de reivindicar para si qualquer posição nas futuras negociações de paz entre a Ucrânia e a Rússia. Ele não tem mandato. Para ser franco: a Ucrânia não precisa dos serviços de Lula”, declarou uma das fontes, que pediu para não ser identificada.

Essas foram as declarações mais fortes do governo ucraniano contra as tentativas do presidente de ajudar a mediar o conflito.

A gota d’água para Kiev foi a chegada de Lula a Moscou na tarde de quarta-feira (7) para participar das comemorações pelos 80 anos da vitória dos aliados e da antiga União Soviética contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.

Daí a menção à Praça Vermelha, onde Lula vai assistir a um desfile militar na sexta-feira (9) ao lado do presidente Vladimir Putin e outros líderes como o presidente da China, Xi Jinping.

O que Lula e Putin devem discutir

Durante a visita a Moscou, Lula terá uma reunião privada com o líder russo, a primeira conversa cara a cara entre eles desde o início do terceiro mandato do presidente brasileiro.

Os dois devem discutir as ameaças do governo Donald Trump ao multilateralismo, a pauta comercial bilateral e também, claro, o conflito na Ucrânia.

Segundo o Itamaraty, Lula vai debater com Putin os pontos de uma proposta sino-brasileira apresentada há meses com ideias para o fim da guerra — o que poderia colocá-lo como um possível mediador no conflito.

Uma fonte do governo de Kiev, no entanto, afirmou que o seu país descarta completamente essa possibilidade.

“A Ucrânia precisa deixar claro novamente: o presidente Lula perdeu a chance de exercer qualquer papel de mediador”, disse.

“Enquanto o presidente brasileiro voava para Moscou para abraçar Putin, os russos continuavam matando civis ucranianos. Lula perdeu completamente a confiança do governo e do povo ucranianos”,

“Como presidente do Brics, Lula deveria, em vez disso, tentar colocar sua própria casa em ordem e evitar uma guerra nuclear entre a Índia e o Paquistão”, chegou a declarar uma das fontes — lembrando que a Índia também faz parte do grupo dos grandes países em desenvolvimento.

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se encontraram em Nova York, nos EUA. • Ricardo Stuckert/PR

 

Recusa de Zelensky

A Ucrânia já tinha demonstrado sua insatisfação com a visita de Lula a Moscou.

Como a CNN publicou no fim de abril, o próprio presidente Zelensky recusou uma conversa telefônica proposta por Lula para antes da sua viagem.

Representantes de Kiev demonstraram grande incômodo com a provável divulgação de fotos de Lula ao lado de Putin durante o desfile militar que muito provavelmente vai incluir unidades e soldados russos que invadiram a Ucrânia.

Foi exatamente por isso que Lula pediu a conversa com o líder de Kiev, para ouvir todos os lados e tentar ajudar de fato na mediação.

Os ucranianos enviaram muitos convites a Lula para visitar a Ucrânia e ver com os próprios olhos a realidade da guerra, mas Kiev afirma que nunca recebeu uma resposta.

Procurado pela reportagem, o Itamaraty preferiu não responder às novas críticas de Kiev.

Uma fonte do governo, no entanto, reafirmou que nenhuma crítica vai mudar a posição do Brasil com relação à guerra.

Desde o início, Brasília condenou a invasão russa, inclusive em todas as votações sobre o tema na ONU, e também sempre defendeu a posição de que o conflito só poderá ser resolvido pela diplomacia.

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